quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Metamorfose

24 horas.
Esse é o tempo de vida de uma certa mariposa.
O que é a vida humana perto da vida dela? O infinito.
24 horas.
O que é esse tempo para nós? Um piscar de olhos, talvez.
O pequeno e rápido ciclo de existência, o momento em que ela sai do casulo para morrer.
Mariposas não são belas como as borboletas, mas nem as borboletas com toda a sua beleza escapam do ciclo. Nem mesmo nós, humanos.
Temos muito mais tempo que esses pequenos seres. Muito mais tempo... tempo...
Afinal o que é o tempo? O que é esse instante entre nascer e morrer?
Todas as nossas metamorfoses ocorrem nesse espaço. Mas nem todos saem de casulos, e seja qual for o motivo que nos prendem lá, alguns nunca vão voar.
Diferente da mariposa que se não sair de lá morre, antes de sua aventura pelos céus, os humanos se adaptaram a viver lá.
Algumas metamorfoses não são visíveis.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Estranho

Parado em frente ao espelho sem reconhecer o estranho ali.
Toquei o rosto com delicadeza desconhecida, a aparente calma naquele rosto esconde as dores e revoltas profundas. Aqueles olhos se encarados com atenção gritam suas mágoas.
- Quem é você? - perguntei na esperança de obter uma resposta confortável.
- Eu sou o que restou de você - respondeu uma voz em minha mente.
O rosto que antes expressava calma agora demonstra confusão e cansaço. Eu já ouvira tal resposta milhares de vezes e em todas a expressão era a mesma.
Cansaço...é, eu realmente estou cansado e insatisfeito com a vida.
Toquei o espelho na tentativa de confortar o estranho e pensando comigo mesmo me intriguei em como as pessoas não percebem isso ou se percebem fingem que não viram. O rosto esboçou um sorriso fraco e cansado para mim, uma retribuição ao pensamento.
Se isto é um presente dos deuses, preferia nunca ter visto este rosto.

Escritos Gelados

Anne uma vez disse que o papel tem mais paciência que as pessoas, isso é uma verdade. Ele recebe incontáveis sentimentos do escritor em silêncio, aceita seus contos, suas frases em avulso, seus pedaços jogados.
Teria mesmo o papel toda essa paciência? O que pensaria ele ao sentir a caneta deslizando em seu universo? Nada?
Infinitas possibilidades, dores são transformadas em poemas frios e melancólicos como o inverno, a alegria e o amor em calor de verão. Qual ele iria preferir? O que aceitaria receber em seu infinito particular?
Não sei qual seria a resposta dele, mas muitas vezes eu o ouço me chamar para conversarmos, chego a conclusão que o meu aprecia a melancolia, afinal, meus escritos tem gosto e cheiro de inverno.